domingo, 19 de abril de 2015

"O disfarce do superman é uma piada"

A lógica por trás desse argumento é válida. Não somos capazes de admitir que não reconheceríamos o nosso maior herói debaixo de um terno e óculos, é verdade. Contudo, vamos esquecer o aspecto óbvio e lógico de que sabemos que Clark Kent é o Superman e tentarmos entender a lógica social por trás desse disfarce, partindo daí, vamos perceber a genialidade e a crítica ao estereótipo do ídolo dentro de nossa sociedade contemporânea dentro de um disfarce pouco elaborado e inconsistente.
A priori, vamos tomar como a figura do Superman é percebida como objetivo inicial desse artigo: uma personalidade heroica, exaltada e cultuada como um símbolo de altruísmo e esperança, uma reprodução messiânica de virtudes e de um carisma público incomparável. Observando deste modo, podemos retomar aos estudiosos que debateram sobre a existência do "Culto da Personalidade", estratégia política que permitia a grandes líderes postular-se como portadores de virtudes e qualidades quase divinas (lembra dos Reis-Deuses? É isso mesmo), é nesse contexto que inserimos a figura do azulão. O herói do mundo inteiro, o salva-vidas do planeta, um Deus entre homens.
E onde Clark Kent é inserido nesse contexto? Imagine? Um caipira do Kansas, pobre, desengonçado e sem jeito, que vive em um quitinete e trabalha com um salário de repórter no Planeta Diário. O "estereótipo" do ordinário. Seria possível para qualquer um imaginar que aquele deus que voa sobre suas cabeças poderia ser o mesmo Clark Kent, aquele que tropeçou de manhã servindo café ao Perry White, ou que abaixou a cabeça enquanto Lois Lane insistia que ele devia tentar fazer algo mais aventurado dentro do jornal? Não. Não imaginaríamos. E sabe por que não? Por que ele está longe de ser um símbolo, um ídolo, um ícone de tudo que representa o Superman. Clark Kent não exalta suas virtudes (na verdade, as omite), Clark Kent não é reconhecido internacionalmente por seu trabalho (e prefere que se mantenha assim), Clark Kent não se destaca em nada enquanto o Superman é um destaque de tudo que representa a moral e a justiça.
É essa a grande genialidade por trás de um óculos e um terno. O que está debaixo do óculos e do terno, o fator comportamental e psicológico do personagem; E em como isso excreta uma sociedade que exalta demais seus heróis e é completamente incapaz de imaginá-los como pessoas comuns, que os valoriza e os coloca em enormes pedestais. A sociedade que cria novos deuses todos os dias, e os exibe em clipes, tapetes vermelhos e enormes telas de cinema. Uma sociedade que não toleraria que um Super Homem pudesse viver uma vida comum, que não cometeria erros, que não tropeçaria de vez em quando, por que não, não o Super Homem, não a personalidade divina que cultuam, isso seria inadmissível. Ninguém está de fato preocupado com quem está por trás da capa, o símbolo é maior do que a pessoa, e apenas por isso, Clark Kent é talvez um dos melhores disfarces já criado.
E antes que perguntem, sim. Conhecemos a explicação a respeito dos óculos... que na verdade não é bem, do "óculos" e sim, de outro Superpoder do azulão nos anos de prata dos quadrinhos: Super-Hipnose inconsciente.
Para muitos fãs, essa explicação é consistente mas sabem que não é mais válida, para outros, ela era simplesmente uma tentativa desesperada de roteiristas fracos em tentar explicar a fragilidade do disfarce, e por fim, há aqueles que nem continuam lendo quadrinhos e acreditam em qualquer explicação que dão. Principalmente por que essas foram propagadas por páginas meia-boca com alto fluxo de visualizações e conteúdo duvidoso, que frequentemente cometem alguns deslizes em relação aos personagens da DC. Então vamos tentar desmistificar uma coisa: SUPERMAN JÁ TEVE MUITO MAIS PODERES DO QUE TEM HOJE, ASSIM COMO AINDA TERÁ NOVOS PODERES CONFORME AUTORES PENSAREM ASSIM.
Nos anos de prata dos quadrinhos, o Azulão possuía uma série de habilidades mentais que incluíam hipnose, projeção de imagem, congelamento, ventriloquismo (?). Boa parte desses poderes foram reduzidos ou excluídos pós John Byrne que deu ao Superman uma consistência mais verossímil, reduzindo seus poderes gerais e sintetizando os poderes psíquicos na telecinese tátil (uma áurea projetada por seu corpo que explicaria sua capacidade de voo, resistência, força e não quebrar grandes estruturas quando as carregasse - expandindo ou retraindo inconscientemente sua áurea).
 Pós-Byrne, a explicação da SuperHipnose para explicar o disfarce do Superman já não era mais aceitável, aliás, não era nem mais racional. Byrne se aprofunda nas diferenças emocionais entre Clark e Superman, deixando nítido que o maior disfarce não são os óculos ou o terno, mas sim, sua capacidade de mudar completamente de postura.
Aqueles que ainda acreditam nessa versão do óculos, e usam argumentos como "Que burros, vocês não leem HQ", sugiro que retome a leitura dos HQs. Ou vocês pararam no tempo, ou vocês não leem quadrinhos de verdade.

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